A história comprovada da escravização araraquarense é lançada na Alesp
A arte da banda Afrosom de Araraquara, formada por alunas e alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Henrique Scabello, abriu, nesta quinta-feira, 30/11, o ato de lançamento do …

A arte da banda Afrosom de Araraquara, formada por alunas e alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Henrique Scabello, abriu, nesta quinta-feira, 30/11, o ato de lançamento do livro A história comprovada: fatos reais e as dores da escravização araraquarense, evidenciando o significado de divulgação da obra que resgata documentos, fotos e informações inéditas sobre a compra e venda de escravizados, do período de 1874 a 1887.
“Este é um ato contra o racismo” afirmou a deputada Márcia Lia, do PT. Houve, segundo a parlamentar, um grande empenho para que o lançamento estadual do livro fosse feito na Assembleia Legislativa de São Paulo, porque “entendíamos que seria fundamental que esta Casa recebesse esse livro, para que as estruturas disponíveis no Poder Legislativo, os meios de comunicação, como a tevê Alesp, redes sociais, divulgassem a história resgatada nos documentos encontrados em cartório de Araraquara que efetivamente provam a compra e a venda de seres humanos”.
“Nosso desafio é lançar esse livro em todos os rincões deste país”, reiterou Thainara Faria, que divide com Márcia Lia e com a deputada Leci Brandão (PCdoB) a iniciativa do ato de lançamento. A parlamentar petista, que sofreu racismo dentro da Assembleia Legislativa de São Paulo no primeiro mês de mandato como deputada estadual, iniciado em março deste ano, saudou aqueles que se aliam à luta antirracista. A denúncia pública feita pela deputada motivou a elaboração de uma cartilha com orientações contra as opressões raciais, de gênero e de orientação sexual nas dependências da Alesp.
O livro A história comprovada é o resultado de um grande esforço coletivo de pessoas, grupos e instituições que ganhou organicidade a partir do trabalho da Comissão sobre a Verdade da Escravidão, criada em Araraquara pela 5ª Subseção da Ordem do Advogado do Brasil e que se dinamizou a partir de reuniões no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), da Universidade de Araraquara (Uniara). Em mais de 500 páginas, encontram-se cinco livros de registros de escrituras de compra e venda de escravizados em Araraquara do período de 1874-1887, registros de uma realidade que se tentou literalmente queimar do passado brasileiro, bem como artigos de autoridades e representantes das forças sociais araraquarenses que se empenharam ou saudaram o resgate desse material.
Editada pela Rima e organizada por Alessandra Laurindo, Claudio Claudino, Edmundo Oliveira, Felipe Oliveira e Fernando Passos, A história comprovada: fatos reais e as dores da escravização araraquarense foi produzida pelo Centro de Referência Afro Mestre Jorge, pela Comissão de Combate à Discriminação Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Araraquara, pela Universidade de Araraquara (Uniara) e pela prefeitura de Araraquara. A obra está disponível de forma impressa e em e-book.
Reparação
Alessandra Laurindo, coordenadora de Políticas Étnico-Raciais da prefeitura de Araraquara, uma das organizadoras do livro, agradeceu a apoiadores e aliados no trabalho que teve início em 2015. Entre esses, destacou a participação da OAB de Araraquara e do vice-presidente da Comissão de Combate à Discriminação da entidade, Cláudio Claudino; os vereadores Guilherme Bianco (PCdoB), João Clemente (PSDB) e Alcino Sabino (PT), da Frente Parlamentar Antirracistas da Câmara Municipal de Araraquara; e Fernando Passos, coordenador do curso de direito da Uniara. Saudou, ainda, a presença no ato de Dimas Ramalho que, como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, contribuiu para que os municípios cumpram a Lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade da temática da história e cultura afro-brasileira na rede oficial de ensino fundamental e médio e estabelece o dia 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra no calendário escolar.
Fazendo um relato sobre o caminho percorrido para resgatar A história comprovada, cujo início está ligado à criação da Comissão Municipal da Verdade da Escravidão Negra de Araraquara, em 2014, Alessandra conta que a primeira informação era que todos os registros haviam sido queimados. O caminho foi, então, ouvir muita gente. “A gente vai pela oralidade, pelos nossos griôs”.
O acesso às escrituras de compra e venda de escravizados no final do século XIX, entre 1874 e 1887, que estavam arquivadas no Cartório do Primeiro Tabelião de Notas e de Protesto de Araraquara, só aconteceu em 2022.
Alessandra Laurindo fala da repercussão que o livro já tem e a que ainda deve ter e concluiu: “não vamos parar por aqui, porque queremos a reparação”.
Assista à íntegra do ato e lançamento do livro A história comprovada: fatos reais e as dores da escravização araraquarense.
Fotos: Marco Cardelino/Alesp.
